Grupo Bbom: contas bancárias são bloqueadas pela Justiça por suspeita de pirâmide financeira
Foram retidos R$
300 milhões, segundo procurador; pagamentos foram suspensos
Vitor
Sorano - iG São Paulo | 10/07/2013 17:57:57 -
Atualizada às 10/07/2013
21:48:01
O Grupo Bbom teve
as contas bancárias bloqueadas pela Justiça Federal por suspeita de ter
constituído uma pirâmide financeira. A liminar – decisão temporária – foi
expedida nesta quarta-feira (10). O grupo, que tem cerca de 300 mil associados,
é a segunda a ter as transações financeiras suspensas por esse motivo nas
últimas 3 semanas.
Ao todo,
foram retidos R$ 300 milhões e a transferência de quase cem carros, dos
quais duas Ferraris, um Rolls Royce e quatro Lamborghinis, segundo o procurador
da República Helio Telho, um dos responsáveis pela ação.
Os pagamentos aos
associados – como são conhecidos os revendedores do Grupo Bbom – devem ser
prejudicados pela medida, afirma Telho.
A decisão atinge as contas da Embrasystem, que usa os nomes fantasias Grupo
Bbom e Unepxmil, e da BBrasil Organizações e Métodos LTDA, bem como os bens dos
sócios proprietários de ambas.
Em entrevista ao iG , o diretor do
Grupo Bbom, Ednaldo Bispo, afirma não ter tido ainda acesso à decisão, mas nega
irregularidades e diz que os pagamentos do grupo aos seus associados continuam
normalmente.
"Eu penso que o nosso modelo [ de
negócios ] não foi devidamente entendido. E eu até compreendo a posição da
Justiça. A gente não gosta, mas aceita", afirma Bispo. "Vai ser a
grande chance de mostrar como [ O grupo] funciona."
Empresa não teria licença para vender rastreador
O Grupo Bbom
informa ser o braço da Embrasystem que comercializa produtos e serviços
oferecidos pelO grupopor meio de marketing multinível – um modelo de varejo que
premia os vendedores pelo desempenho de outros vendedores que atraem para a
rede. O principal serviço, segundo Bispo, é o de rastreamento de veículos.
A juíza susbstituta da 4ª Vara Federal da cidade de Goiânia, Luciana
Laurenti Gheller, porém, considerou que os reembolsos feitos a cada
participante da rede "dependem exclusivamente do recrutamento feito por
ele de novos associados", de acordo com nota divulgada no site do Tribunal
Regional Federal da 1ª Região (TRF-1). O Grupo Bbom cobra dos revendedores
taxas de adesão que variam de R$ 600 a R$ 3 mil.
"Na verdade é um esquema de pirâmide financeira disfarçado de
revenda de serviço de rastreamento por satélite", diz Telho, da
Procuradoria da República em Goiás. "Esse esquema do Grupo Bbom, como era
o da Telexfree , era disfarçado. Você ganha dinheiro
não por comissão de venda de rastreador, mas por pessoa que você coloca [ na rede ]."
A juíza também
apontou como evidência o fato de a Embrasystem não ter autorização da
Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) para comercializar os
rastreadores de automóveis. O diretor dO grupoafirma que o aval não é
necessário.
"O grupoque presta o serviço de monitoramento não precisa de
homologação, mas o equipamento, sim. Nós temos todas as homologações [ do rastreador ] feitas diretamente no
fabricante."
Bispo afirma ainda
que o faturamento dO Grupo Bbom é composto da venda de rastreadores e, no
longo prazo, dos serviços de monitoramento.
Segundo o procurador
da República, o aumento expressivo no faturamento do Grupo Bbom nos últimos
meses também chamou a atenção.
"O grupo faturava R$ 300 mil no ano passado e em março [ de 2013 ] foram R$ 100 milhões. Uma coisa
absurda", afirma.
Segundo o
procurador, além da investigação que levou à liminar concedida nesta
quarta-feira (10), um inquérito criminal será aberto para apurar a ocorrência
de crime contra a economia popular, desenvolvimento clandestino de atividades
de telecomunicações, crime contra o consumidor e a ordem econômica, lavagem de
dinheiro e evasão de divisas.
Em
todo o Brasil, 13 são investigadas
O Grupo Bbom já
tinha se tornado alvo de investigação do Ministério Público do Rio Grande do
Norte (MP-RN), que anunciou no último dia 2 a abertura de inquéritos contra
seis empresas por suspeita de pirâmide financeira financeira.
Em todo o Brasil,
13 empresas são investigadas atualmente por suspeita de pirâmide financeira,
segundo Murilo Moraes e Miranda, presidente da Associaçao do Ministério Público
do Consumidor (MPCon) e integrante do Ministério Público de Goiás (MP-GO).
Foi criada uma força-tarefa que reúne promotores e procuradores federais.
No dia 18 de junho, a Justiça do Acre suspendeu os pagamentos e bloqueou
os bens dos donos da Telexfree , que informa
comercializar pacotes de telefone por internet (VoIP, na sigla em inglês) por
meio de marketing multinível. Os responsáveis também negam irregularidades e
entraram com um mandado de segurança contra a decisão que, na última segunda-feira (8), manteve a suspensão .